A "bancocracia" dos Estados Unidos e seus efeitos na dependência da América Latina
- Luísa da Rocha Canazarro
- 10 de dez. de 2024
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O capitalismo contemporâneo é caracterizado por uma lógica financeirizada e militarizada, na qual potências econômicas como os Estados Unidos utilizam mecanismos de controle, principalmente de coerção, através não apenas do poderio militar, mas também das finanças na relação centro-periferia. Para entender esse processo, os professores e pesquisadores Miguel Bruno (UERJ) e Denise Lobato (IE/UFRJ) produziram o artigo “Determinantes endógenos e geopolíticos do desenvolvimento da periferia: uma análise do caso brasileiro de financeirização subordinada”.

Com o uso da coerção nas estratégias geopolíticas, os Estados Unidos reforçam a subordinação das economias emergentes por meio do comando do capital financeiro globalizado sobre a divisão internacional do trabalho, intensificando a posição dos países periféricos como meros fornecedores de mão de obra barata e de commodities agrícolas, energéticas e minerais. Além disso, essa subordinação se manifesta na maior volatilidade do comércio, do mercado de capitais, das taxas de juros e do câmbio, criando barreiras para o planejamento e para políticas macroeconômicas eficazes no longo prazo.
A luta geopolítica dos EUA pela manutenção da hegemonia internacional no cenário atual adotou novas estratégias, especialmente diante da ascensão da China como adversário nas disputas comerciais e geopolíticas. Essas estratégias apelam para os interesses dos capitais financeiros de curto prazo, evidenciando que “mercados abertos e finanças desreguladas [são] o principal instrumento de poder internacional dos Estados Unidos antes do uso das armas” (Fiori, 2020, p. 49).
Nesse contexto, a atuação dos EUA na conjuntura internacional transcende a manutenção de uma “hegemonia benevolente” e se transforma em uma busca pelo poder imperial, expressa pela prática do imperialismo, na qual os interesses particulares de uma elite financeira estadunidense são posicionados como universais, com a capacidade de coordenar outros Estados ao redor do mundo.
Para Fiori, um dos autores citados no estudo, a estratégia global de poder dos Estados Unidos envolve a prevenção ou eliminação de qualquer ameaça a seus interesses nacionais e militares. Assim, o processo de financeirização consolida o poder imperial americano em detrimento do desenvolvimento de países da América Latina, como o Brasil.
O caso brasileiro
A análise feita no artigo de Bruno e Lobato sobre o Brasil evidencia a dependência financeira e monetária do país em relação aos Estados Unidos. O predomínio da elevada renda de juros reais, capitalizados em benefício de interesses rentistas e banqueiros, mostra um Estado capturado pela alta finança, configurando uma bancocracia.
Gráfico de ativos financeiros, Selic real capitalizada e estoque líquido de capital fixo produtivo no Brasil

O problema central está na sobreposição do capital financeiro ao capital produtivo. Nesse processo, a política fiscal torna-se um mero mecanismo de geração de superávit primário para a União. Em um cenário de financeirização rentista, a formação bruta de capital fixo é reduzida significativamente, conduzindo a economia brasileira a um ciclo de crescimento baixo e instável.
América Latina e subordinação financeira
Para além do caso brasileiro, os países da América Latina têm enfrentado uma crescente subordinação financeira imposta pelas estratégias geopolíticas dos Estados Unidos. Essa financeirização subordinada impede transformações sociais, desmantela a estrutura produtiva e impõe uma economia baseada na exportação de produtos primários de baixo valor agregado, reforçando a posição periférica e subdesenvolvida da região.
Romper com esse ciclo de submissão exige uma ruptura com o regime de crescimento financeirizado. Como mencionado no artigo, no caso brasileiro, essa ruptura passa pelo abandono de um modelo econômico centrado na exportação de commodities.
Referências:
BRUNO, Miguel; GENTIL, Denise Lobato. Determinantes endógenos e geopolíticos do desenvolvimento da periferia: uma análise do caso brasileiro de financeirização subordinada. XXIX Encontro Nacional de Economia Política, 2022.