O Banco Popular da China e a ascensão de um Banco Central comunista no cenário global
- Julia Rosário Julião
- 18 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Resenha de artigo: Allen, Franklin, Xian Gu, and Jun Qian. "People's bank of China: History, current operations and future outlook." Current Operations and Future Outlook (October 10, 2017) (2017).
Quais eventos históricos moldaram o sistema financeiro da China? Como o Banco Popular da China (do inglês, People's Bank of China, PBC) se consolidou como um dos principais bancos centrais do mundo e quais são os desafios que ele enfrenta em uma economia globalizada? Essas são algumas das questões exploradas no artigo People's Bank of China: History, Current Operations and Future Outlook, que oferece uma análise abrangente da evolução do PBC, incluindo seu processo de tomada de decisões, comunicação com o mercado e a coordenação com governos e outras autoridades. Nessa resenha, contaremos um pouco dessa história e convidamos o leitor a ler o artigo completo.
O artigo se inicia pela revisão da história monetária da China antes de 1948, abordando como durante as dinastias Song, Yuan e Ming, o uso de papel-moeda levou à hiperinflação devido à emissão excessiva de notas. Esse período foi seguido pelo influxo de prata japonesa e espanhola, que impactou o sistema monetário chinês. A Dinastia Qing (1644-1911) introduziu um sistema bimetálico, onde a prata e o cobre eram usados em transações comerciais, com a prata sendo usada para grandes transações e o cobre para transações locais. A cunhagem de moedas era centralizada em Pequim, embora ainda não houvesse um banco central formal.
Após a Rebelião Taiping (1850-64), mudanças significativas ocorreram com a abertura de portos chineses e a introdução de bancos ocidentais. O estabelecimento do Banco Imperial da China em 1897 marcou o início de uma era de modernização bancária. Nos anos seguintes, outros bancos, como o Banco de Comunicações (1908) e o Banco da China (1912), foram fundados, e um padrão prata foi adotado, marcando avanços no sistema monetário.
A reforma monetária de 1935 foi um marco, com a introdução do "fabi" como a primeira moeda nacional legal, substituindo o padrão prata. Contudo, a invasão japonesa em 1937 levou à China a viver um período de hiperinflação, uma vez que foi necessário ocorrer um financiamento bélico por meio da impressão de dinheiro. Em 1947, durante a transição para o regime comunista, se inicia o processo de criação do Banco Popular da China, formalmente estabelecido em 1948 e o Renminbi, a atual moeda chinesa, é introduzido em 1949.
Em setembro de 1949, foi aprovada a Lei do Governo Popular Central da República Popular da China pela Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A Lei trouxe o PBC para a administração direta do Governo Popular Central. A Lei também documentou que o PBC deveria ser regulado diretamente pelo Comitê Financeiro e Econômico e desempenhar as seguintes funções: Banco do Estado, emissão monetária, gestão do tesouro, administração de atividades financeiras, manutenção da estabilidade financeira, restauração da economia e reconstrução do país.
Em 1951, o Banco Popular da China (PBC) iniciou um programa piloto para promover o desenvolvimento de cooperativas de crédito (RCCs). Até o final de 1953, foram estabelecidas mais de 9.400 cooperativas de crédito, 20.000 cooperativas de ajuda mútua e 3.000 departamentos de crédito ligados a cooperativas de abastecimento. Essas cooperativas ajudaram os camponeses a resolver problemas de financiamento na produção e impulsionaram o Movimento Cooperativo Agrícola. Desde então, o PBC evoluiu de um sistema de banco único, que combinava funções de banco central e comercial, para se tornar, em 1983, o banco central exclusivo da China.