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O mandato selado de Galípolo no Banco Central

Antes mesmo de assumir oficialmente a presidência do Banco Central do Brasil (BC), Gabriel Galípolo já se encontra destinado a um compromisso com a política monetária conservadora de Campos Neto. A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o comando de Roberto Campos Neto foi marcada por uma decisão unânime de elevação da taxa Selic em 1%, para 12,25% ao ano, acompanhada por uma forte sinalização de que novos aumentos irão ocorrer nas próximas reuniões.

A nota divulgada pelo Copom reforça uma orientação fortemente contracionista, apresentando uma leitura alarmista da conjuntura econômica. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 foram reajustadas para 4,8% e 4,6%, respectivamente. A comunicação oficial enfatizou riscos inflacionários genéricos como a desancoragem das expectativas e a resiliência dos preços de serviços, que não justificariam o aumento agressivo da taxa de juros, como visto em outras circunstâncias.


A justificativa para o aumento da taxa de juros foi sustentada por uma narrativa que pretende aterrorizar com os riscos de desvalorização cambial persistente e impactos negativos de políticas econômicas internas e externas. Ao mesmo tempo, reconheceu de forma secundária que uma desaceleração econômica global mais intensa e os efeitos do aperto monetário internacional poderiam aliviar pressões inflacionárias — uma consideração que pareceu pouco influenciar a decisão final, mesmo com boa parte das taxas de juros internacionais na contramão da tendência brasileira.


Essa postura inflexível impõe severas restrições ao próximo presidente do BC e o novo quadro diretor. Galípolo assumirá o BC em um contexto de política monetária excessivamente conservadora, fortemente orientado para seguir aumentando a taxa de juros no primeiro trimestre de 2025. Essa visão está condicionada por um viés de política monetária que transfere para a futura gestão de Galípolo o ônus de possíveis reajustes de rota. Tudo isso planejado para amortecer uma eventual reorientação do BC aos valores defendidos pelo governo Lula.


Além disso, a nota ressaltou a influência da política fiscal sobre as expectativas e a taxa de câmbio, destacando o impacto da proposta de ajuste fiscal do governo Lula na formação dos preços de ativos e nos prêmios de risco. O Banco Central, sob Campos Neto, parece ter consolidado um legado de ortodoxia monetária intransigente.


Qualquer tentativa de moderação na política monetária será interpretada como relaxamento da disciplina fiscal e perda de credibilidade. Assim, o mandato de Galípolo já está selado antes mesmo de começar, atado a uma estratégia pré-definida que pouco considera as consequências sociais e econômicas mais amplas da manutenção de uma taxa de juros persistentemente elevada.

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