Oriente Médio a caminho da desdolarização? Entrevista com Marcelo Pereira Fernandes (UFRRJ)
- Luísa da Rocha Canazarro
- 6 de nov. de 2024
- 14 min de leitura
Professor Associado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), docente do Programa de Pós-graduação em Economia Regional e Desenvolvimento (PPGER) da UFRRJ e do do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional (PEPI) da UFRJ, o economista Marcelo Pereira Fernandes falou ao Observatório de Bancos Centrais sobre o caminho de uma possível “desdolarização” e o processo gradual da internacionalização do Renminbi.

Qual seria a motivação dos países como Arábia Saudita e Emirados Árabes, que historicamente são aliados dos Estados Unidos, em buscar alternativas ao dólar nas transações comerciais de petróleo? Como esse movimento de diversificação das moedas nas transações se relaciona com as sanções americanas no contexto geopolítico?
Em relação à Arábia Saudita, a primeira coisa é a seguinte, a Arábia Saudita não está se tornando adversária dos Estados Unidos, nem criando nenhum embaraço em relação ao seu aliado antigo. A questão toda, do meu ponto de vista, passa pela China.
“o uso do renminbi é uma forma de facilitar o comércio entre os dois países. Basicamente é isso. Acho que tem que ficar claro que não é nenhum tipo de confronto com os Estados Unidos, absolutamente.”
A China se tornou a segunda maior economia mundial. Há especulações que daqui a alguns anos ela vai inclusive ultrapassar o PIB dos Estados Unidos, ela é uma grande compradora de petróleo, ela vende petróleo, ela compra petróleo. Então, na realidade, o uso do Renminbi é uma forma de facilitar o comércio entre os dois países. Basicamente é isso. Acho que tem que ficar claro que não é nenhum tipo de confronto com os Estados Unidos, absolutamente. Inclusive, a Arábia Saudita entrou também nos BRICS, mas, volta a dizer, não é por causa disso que ela passa aquele confronto dos Estados Unidos, absolutamente. Ela vai continuar vendendo petróleo para os Estados Unidos, se os Estados Unidos não o aceitam.
O dólar é usado na comercialização do petróleo desde 1975, além disso é a moeda que está no topo da hierarquia do SMI, trazendo um “super privilégio exorbitante” para os EUA. Em sua opinião, que efeitos essa posição super privilegiada gera para a economia global e que mudanças ela enfrenta com a internacionalização do renmimbi?
A maioria dos autores, dos analistas, entende que essa posição do dólar é uma posição que dá a ele um privilégio exorbitante. Essa era, na verdade, uma expressão que foi usada na época de Bretton Woods ainda. E eu me refiro como super exorbitante porque, depois da queda dos acordos de Bretton Woods, essa posição privilegiada do dólar no sistema monetário internacional ficou ainda mais evidente.
Basicamente, a grande vantagem é de que os Estados Unidos, atualmente, é o único país que não tem qualquer restrição externa. Por quê? Porque praticamente todas as importações dele, dos Estados Unidos, das empresas americanas, etc., são feitos na sua própria moeda. Então, é um país que não tem qualquer tipo de restrição externa. Ele não tem problema de balanço de pagamentos. Não há, enfim, vamos falar aí de uma fuga de capital como ocorre, como já ocorreu nos países da América Latina durante tantos anos.
Os Estados Unidos, basicamente, não precisam se preocupar com isso. Ele é o único país, de fato, que não tem qualquer restrição no seu balanço de pagamentos. Bom, essa é uma coisa. Como eu disse, a maioria dos analistas entende que são grandes privilégios. Existem alguns analistas que acham que não. Porque, com isso, tem um conjunto de motivos que são apontados, mas, basicamente, um é o seguinte. Isso tende a provocar uma certa valorização do dólar. E, sendo o dólar mais valorizado vis-à-vis outras moedas dos seus parceiros comerciais, isso prejudica as exportações dos Estados Unidos, prejudica o emprego, etc., etc.
Então, há um conjunto pequeno de analistas que consideram esse privilégio que eu estou falando aqui como super exorbitante, um fardo para os Estados Unidos. Mas, sinceramente, particularmente, eu acho quase que ingênuo dizer isso.
Mas tudo bem. Agora, bom, esse é um ponto. Sobre a internacionalização do Renminbi. Esse, para mim, é um assunto caro no momento, porque eu venho desenvolvendo, já há três anos, um projeto no âmbito de iniciação científica, enfim, de extensão, sobre esse tema. Veja bem, vamos fazer aqui uma pequena diferença só. O dólar é, na verdade, a moeda internacional. Só existe uma moeda, de fato, internacional. É o dólar. As outras moedas se internacionalizam, vamos dizer assim. Então, esse é um processo que a China vem buscando. Não há um consenso também sobre isso, mas vamos botar o ano de 2003. É um processo lento que se acelerou após a crise financeira de 2008. E houve, mais uma vez, um incentivo à internacionalização, porque os Estados Unidos passaram, desde 2012, basicamente, a utilizar o dólar como uma arma econômica. Foi o caso, por exemplo, do Irã. O Irã foi desconectado do SWIFT, que é a rede de mensagem que presta serviço aos bancos internacionais. Isso simplesmente arrasou com a economia iraniana. Então, a China começou um processo, quer dizer, ele acelerou esse processo de internacionalização, depois agora com a Rússia, foi o caso.
E aí, na realidade, isso criou um temor, não só na China, mas em outros países, de que os Estados Unidos possam fazer a mesma coisa que fizeram com o Irã, fazem com a Venezuela, fizeram agora com a Rússia. Veja, a Rússia não é um país qualquer, certo? É um país gigantesco. E, enfim, se fizeram isso com a Rússia, por que não com a China? Enfim, tem um limite, certo? Embora eu ache que a China já é um pouco mais difícil, mas... agora, o processo de internacionalização do Renminbi ainda é muito lento. E aí eu acho que é por conta mesmo das autoridades chinesas.
Eles vêm fazendo [o processo de internacionalização do Renminbi] com indas e vindas, vamos dizer assim. Eles vão testando, ver até onde vai dando certo. O fato é que esse é um processo que vem ocorrendo. Eu acho que o grande símbolo desse processo se dá em 2016, quando o Renminbi passa a fazer parte da cesta de moedas do direito especial de saque, em 2016.
Eu acho que esse é o grande símbolo. Mas, de lá para cá, não avançou muito a internacionalização do Renminbi. De todo modo, esse é um processo que, enfim, ele caminha de forma lenta, de forma planejada pelo Estado e pelo Banco Central da China, que é o banco do povo da China. Então, esse é um processo que vai ocorrer. Agora, o que isso, digamos, atrapalha os Estados Unidos? A princípio, nada. Os Estados Unidos não têm feito, até o momento, eles não moveram uma vírgula, uma pedra, nada, para impedir que a internacionalização do Renminbi ocorra, zero. Até agora, eles têm assistido passivamente. Por isso que eu falo, o fato da Arábia Saudita passar a fazer em alguma escala, essa escala é pequena, até hoje a gente sabe. Negócios em Renminbi com o seu petróleo, a princípio, não têm qualquer impacto nos Estados Unidos, impacto algum.
Primeiro, que os Estados Unidos não são mais dependentes de petróleo. Os Estados Unidos são os maiores produtores de petróleo no mundo, atualmente. Então, digamos, a fragilidade que eles tinham nos anos 70, nisso, nos anos 80, já não existe mais, certo? E segundo, que a Arábia Saudita, se eles quiserem, vamos botar assim, se os Estados Unidos quiserem comprar petróleo por qualquer motivo, a Arábia Saudita não vai deixar de vender petróleo para os Estados Unidos em dólar. Então, a princípio, a internacionalização do Renminbi não traz maiores preocupações para os Estados Unidos, absolutamente.
É possivel que outros países possam enxergar o Renminbi como uma moeda alternativa ao dólar, especialmente nesse setor do petróleo, e como isso poderia afetar o Brasil, dentro das transações de petróleo brasileira?
Bom, veja, eu acho que eu estou distoando um pouco do que a gente tem escutado nos meios de comunicação. Há uma, digamos, pelo que eu tenho lido, há uma superestimação do Renminbi, a ponto de se falar da subscrição do Renminbi pelo dólar. Bom, isso pode acontecer. Só estou dizendo que não há nada no horizonte, nem a curto, médio prazo, que isso venha a ocorrer. Nada, zero. A distância do dólar é simplesmente gigantesca, muito grande. Agora, o que acontece é o seguinte. A China é a segunda maior economia do mundo, é a maior exportadora do mundo.
Então, veja, a troca de moedas, acordos e dos países que não necessariamente envolvam o dólar, isso faz com que os custos de transação sejam reduzidos. Porque, vou te dar um exemplo, pensa Brasil e Argentina. O Brasil, quando vende para a Argentina, ela recebe em dólares, correto? E depois, o empresário brasileiro, estou aqui simplificando ao máximo, o empresário brasileiro traz os dólares, enfim, aí troca por reais, etc, etc, paga o salário dos funcionários, os trabalhadores, etc. A mesma coisa, e lá o Argentina, a Argentina precisa ter dólares, conseguiu os dólares para comprar, para poder pagar as importações de uma empresa brasileira e vice-versa. Então, isso é um custo de transação, falando muito simplificadamente. Se você conseguisse fazer, não passar pelo dólar, isso seria vantajoso.
O Brasil, durante um bom tempo, ele teve um acordo de moedas com a Argentina. Eu já escrevi sobre isso, já até apresentei trabalho sobre isso. Se eu não me engano, agora eu acho até que foi extinto esse acordo. Porque, no fundo, ele foi muito pouco utilizado. Então, o que os países buscam fazer, uma questão mais estritamente econômica, é fazer também com que você possa fazer comércio sem precisar passar pelo dólar, para poder reduzir os custos. O Brasil tem acordos com a China, em relação a isso. Mas a coisa, infelizmente, digo eu, pelo menos, porque eu também gostaria de ver que esse comércio com a China pudesse aumentar mais do que já é, principalmente nas suas respectivas moedas. O Brasil tem acordo com a China. A coisa não avança muito, por quê? Porque não é fácil, simplesmente isso. Não basta querer, entendeu, por quê? Porque, veja, você tem que ter um empresário brasileiro que queira aceitar o Renminbi.
Pensa numa situação que o Brasil está vendendo alguma mercadoria para uma empresa chinesa. A China tem o Renminbi. Por outro lado, o empresário brasileiro vai ter quer aceitar o Renminbi, e esse que é o problema. Então, a coisa não é tão simples assim.
Eu acho que pode avançar e, muito provavelmente, vai avançar. Acordos comerciais que envolvam moedas chinesas, não só no Brasil, como em outros países da América Latina. Principalmente por quê? Porque a China passou a ser a maior parceira comercial do Brasil, desde 2009, a maior parceira comercial da América Latina.
Na maioria dos países da América Latina, se não me engano, acho que somente com o México que não, acho que é o segundo maior parceiro. A conta dos Estados Unidos está muito próxima ali. Muito provavelmente, eu não tenho certeza absoluta, mas muito provavelmente, todo comércio que a China faz com Cuba, por exemplo, é em renmimbi. Simplesmente porque Cuba não pode usar o dólar. Porque ela corre o risco de sofrer alguma sanção, que é o caso da Venezuela. Muito provavelmente, esse comércio da China com Cuba é feito praticamente só com renmimbi, imagino eu. E a China tem um grande comércio com Cuba. A China vende muita mercadoria para Cuba, uma série de mercadorias. Importa as coisas básicas, açúcar, líquido, se não me engano, e mais um produto que eu não lembro agora.
Então, muito provavelmente, o Renminbi vai continuar nesse processo de internacionalização. É muito para a questão econômica. Mesmo que o governo da China não quisesse, imagina que ele não quisesse, tivesse que ter controle total sobre esse processo. A China é um país gigante, muito grande, e virou uma potência econômica gigantesca. A China, você junta Japão, Alemanha, França, Inglaterra, não dá uma China. Ela abocanha esses países todos juntos, em termos de PIB. Então, mesmo que ela não quisesse, pequenos negociantes, que estão ali próximo do Vietnã, por exemplo, vão acabar fazendo comércio na moeda chinesa. Então, esse é um processo que acaba indo justamente por conta do poder econômico da China. O que a China tem de diferente em relação a esse processo é que o processo de internacionalização do RMB é um processo organizado, um processo planejado pelo Estado chinês. Isso exatamente assim como a China está fazendo, eu não conheço, eu acho que não tem nenhum paralelo. Posso estar enganado, mas ele vem fazendo um plano de internacionalização que é planejado, só que lento.
Como o aumento planejado dessa internacionalização do Renminbi, além do obstáculo de ter o empresário aceitando o Renminbi dentro das transações, quais obstáculos técnicos e financeiros você enxergaria em um país que gostaria de aceitar Renminbi além do dólar?
Ora, existem questões técnicas para que isso ocorra. Eu não saberia exatamente te dizer dos seus pormenores que tipo de questões técnicas seja isso. Mas veja, o grande problema que você tem é o seguinte, beleza, eu sou empresário, vendi, sei lá, um milhão de renminbi, quero aceitar a moeda da China. Aceitei, então está depositado na minha conta, na minha conta no banco chinês, um milhão de renminbi. O que eu vou fazer com esse um milhão de renminbi? Está entendendo? Esse que é o problema, porque eu vou ter dificuldade de utilizar o renminbi em outros países que não a China, percebe? Só que isso não é tão ruim, por quê? Porque a China é a boa produtora do mundo. Produz tudo. Então isso é um incentivo.
Agora o dólar, ele é melhor, por quê? Porque veja, vendi em dólar, ao invés de renminbi eu ganhei o equivalente em dólar. Eu posso pegar esse dólar e usar, não no Brasil diretamente, porque isso é proibido, mas posso usar em qualquer país da América Latina, por exemplo. Em países tão próximos da China, isso se torna bem mais fácil, porque por estarem próximos, o comércio automaticamente é mais facilitado.
Agora, há questões técnicas para fazer com que isso avance, não é tão trivial assim. Um dos motivos é o receio de que um país como o Irã possa sofrer alguma sanção ao passar pelo sistema de pagamento dos Estados Unidos. Por exemplo, o Swift, que na realidade é um sistema belga, é um sistema de mensagem e não um sistema de pagamento. Em algum momento você pode ser obrigado, digamos uma empresa, você pega uma empresa qualquer de algum país que os Estados Unidos estão com algum problema. Digamos o Irã, então ele vai utilizar essa rede de comunicações, o governo dos Estados Unidos acaba sabendo e eles podem utilizar algum tipo de mecanismo para dificultar qualquer tipo de transação que o Irã venha fazer com a China, mesmo sendo em renminbi. Esse é um dos problemas. O poder do governo dos Estados Unidos sobre o sistema bancário internacional é muito grande. Mesmo em renminbi, o governo dos Estados Unidos pode utilizar alguma artimanha para fazer com que isso seja dificultado. Enfim, se fosse fácil também, os BRICS estão tentando fazer algo parecido já há um bom tempo. Caso não seria o Renminbi, seria uma moeda incomum entre os países. Enfim, um pouco isso.
O interesse dos BRICS em uma moeda comum é um assunto crescente. Você acredita que a R5 poderia realmente se consolidar como uma moeda internacional, principalmente para o comércio de commodities?
No caso da moeda dos BRICS, que estava sendo projetada, não ficou muito clara ainda a forma que seria feita. A proposta é diferente de como se funcionaria. Por exemplo, o Paulo Nogueira Batista Júnior, que é um economista que esteve no FMI, a serviço do governo brasileiro no governo Lula. Ele tem, por exemplo, uma proposta de como se poderia funcionar. Agora, também não há a menor possibilidade de uma moeda dos cinco países vir a substituir o dólar. Zero chance. Até onde eu posso imaginar ela serviria algo parecido como, por exemplo, os direitos especiais de saque do FMI. E provavelmente facilitaria, por exemplo, o comércio entre os países dos BRICS. Poderia facilitar.
Mas eu vou aqui dar o meu palpite, vou dar uma opinião. Eu acho que seria mais fácil que esses países passassem a utilizar mais o Renminbi. Seria uma alternativa mais fácil. A Rússia vem fazendo isso. As sanções dos Estados Unidos sobre a Rússia ajudaram a internacionalizar o Renminbi. Porque a Rússia passou a ser obrigada, em grande parte, a utilizar como moeda de troca o Renminbi e não o dólar. Com dois parceiros comerciais, digamos. A China tem o que a Rússia quer e a Rússia tem o que a China quer. A China compra muita arma da Rússia, gás também. E a China vende uma série de mercadorias para a Rússia. São países próximos. E por conta dessas sanções, eles foram obrigados a tentar uma alternativa que não passasse para o uso do dólar. Isso aumentou a internacionalização do Renminbi. Eu acredito, mas isso é uma opinião minha. Seria mais fácil que você internacionalizasse ainda mais, expandisse o uso do renminbi entre os países dos BRICS. Eu acho mais fácil de se fazer do que a criação de uma nova moeda. Que não seria uma moeda de uso das pessoas. Seria uma moeda mais no sentido, até onde eu escutei pelo menos. É próximo ao que o FMI já emite no direito especial de saque. Acho que mais ou menos algo do tipo.
Para finalizar, como você enxerga a atuação do Banco Central diante desse cenário de aumento gradual da internacionalização do Renminbi? Qual é a sua visão sobre o Banco Central do Brasil diante desse cenário?
Olha, eu não li exatamente nada do Banco Central a respeito disso. O que eu posso lhe dizer é o seguinte. O renminbi faz parte das reservas internacionais do Banco Central do Brasil. Se eu não me engano, o Banco Central tem mais renminbi do que euro. É uma parcela muito pequena. Eu não lembro exatamente o quanto está agora, mas quase todas as reservas internacionais, acho que mais de 90% das reservas internacionais do Brasil é em dólar. Mas eu acho que a segunda moeda, se eu não me engano, não mudou nada nesses últimos meses. A segunda moeda é o renminbi. Só para você ter uma ideia. Mas veja bem, isso é um processo que é quase que natural.
O dólar vai continuar sendo mais utilizado na relação do Brasil. Porque o Brasil não tem relação só com a China, essa que é a questão. Tem relação com os Estados Unidos, com a América Latina.
Eu não gosto de falar natural, mas quase que natural por conta da força do comércio entre Brasil e China. Entendeu? O dólar ainda é disparado, mas utilizado. O dólar vai continuar sendo na relação do Brasil. Porque o Brasil não tem relação só com a China, essa que é a questão. Tem relação com os Estados Unidos, com a América Latina. Mas alguma parcela de moeda chinesa, você quase que naturalmente isso vai acabar acontecendo, como o Banco Central possui de reservas internacionais. Só mais um ponto que é muito falado, não está acontecendo, na minha opinião, uma “desdolarização” longe disso, o Renminbi por exemplo tem ganhado espaço em cima de outras moedas, não exatamente do dólar.
Em relação as reservas internacionais, de fato o dólar vê, ele está perdendo alguma parcela, pois já teve mais de 76% das reservas dos Bancos Centrais, atualmente está em 58% das reservas, se não me engano. Em 1995 era mais ou menos esse o número. Só que temos a seguinte questão, qual é a quantidade que um país deve ter de reservas internacionais? Essa é uma pergunta interessante, mas antigamente afirmavam que um país deveria ter uma quantidade de 3 a 4 meses de importação, só que nós últimos 20 anos a quantidade de reservas internacionais em posse dos Bancos Centrais se multiplicou por 10.
Então, em termos absolutos, a quantidade de dólares em posse dos Bancos Centrais aumentou absurdamente, se multiplicou por 10, a questão é que em termos relativos aumentou pouco . Veja, para os bancos centrais acumularem dólar em suas reservas, eles precisam de dólares. Então não há uma “desdolarização”, isso não está acontecendo, pode vir a acontecer? Pode, só estou afirmando que não está acontecendo a curto e médio prazo e a internacionalização do renminbi ela ocorre contra outras moedas, como o dólar canadense, o australiano, o dólar de Hong Kong, veja que Hong Kong pertence a China mas emite a sua própria moeda.
Enfim, eu diria que há uma “renmibização” da economia de forma lente, mas não uma “desdolarização”, porque a posição do dólar é muito forte então para modificar isso precisaria realmente de uma grande turbulência internacional que atingisse os EUA
Se algo do tipo acontecer aí realmente iríamos assistir a uma crise de caráter jamais visto, porque mudanças no sistema monetário como essa, seria algo muito poderoso dado a vontade dos EUA de conseguir a moeda internacional, porque internacionalização uma moeda também traz custos para o país, por isso a China vem atuando de forma lenta.
Recomendações de leitura do entrevistado:
FERNANDES, M. P.. Oriente Médio a caminho da ?desdolarização??. MUNDORAMA, v. 18, p. 1, 2024.
FERNANDES, M. P.; CARVALHO, M. P. . Inserção chinesa no Sistema Financeiro Internacional: assertividade e resposta às sanções do Ocidente. Conjuntura Austral. Revista do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais da UFRGS, v. 15, p. 39-50, 2024.
FERNANDES, M. P.; WEGNER, R. C. ; ALVES JUNIOR, A. J. . Assertividade da China no sistema financeiro internacional: a reforma das agências de classificação de risco de crédito. ANÁLISE ECONÔMICA (UFRGS), v. 40, p. 1-38, 2022.