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Por que é tão difícil? A luta das mulheres por espaço na liderança no Banco Central do Brasil

*Texto escrito por Luísa da Rocha Canazarro e Gabrielle Maio da Cunha Cabral


A sub-representação das mulheres no setor público, principalmente no caso do Banco Central do Brasil, torna evidente um conjunto de estereótipos característicos da sociedade patriarcal como por exemplo a crença de que as mulheres deveriam se comprometer mais com o cuidado familiar, seja de filhos ou parentes, ao invés de direcionar esforços para a vida profissional e acadêmica. Com o objetivo de analisar quantitativamente os desafios enfrentados por mulheres na ascensão a cargos de alta liderança, a pesquisadora Mariane Santiago de Souza (USP) e o pesquisador André Luis Silva (USP) produziram o artigo “Mulheres na alta liderança do Banco Central do Brasil”.

Carolina de Assis Barros, diretora do Banco Central do Brasil
Carolina de Assis Barros, diretora do Banco Central do Brasil

Toda a estrutura patriarcal cria barreiras para a ascensão das mulheres em cargos de liderança, essas barreiras foram nomeadas de “teto de vidro” e “labirinto” termos que remetem a ideia de que as mulheres sabem quais são os cargos de liderança, mas não conseguem ocupá-los mesmo que sejam altamente qualificadas e para conseguir ocupá-los precisam enfrentar uma série de caminhos estereotipados.


No caso do Banco Central do Brasil, instituição foco para a análise das disparidades de gênero no artigo, a configuração do ambiente revela-se desestimulante e até constrangedor para a carreira feminina. Segundo dados apresentados no artigo, o órgão tem 77% dos cargos ocupados por homens e 23%, por mulheres (Portal da Transparência, 2022). Entretanto, em uma análise da ocupação dos cargos de alta liderança a diferença é ainda mais expoente, com 88% no maior nível hierárquico. Assim, as mulheres ocupam apenas 11% das posições de liderança disponíveis (BCB, 2022). O fato curioso é que mesmo com o acesso à cargos efetivos do BCB sendo universal e de acordo com um concurso público, o que pressupõe ter condições de equilibrar o número de homens e mulheres nos postos de trabalho, há um forte desequilíbrio entre homens e mulheres trabalhando na instituição e uma disparidade mais intensa quando se trata de mulheres ocupando cargos estratégicos de alta liderança.


Uma das formas de avaliar a grande assimetria entre homens e mulheres na alta liderança é destacar como a cultura organizacional legitima os estereótipos de gênero reproduzidos pela sociedade patriarcal, os estereótipos são reproduzidos de diferentes formas no dia a dia e no ambiente profissional são ainda mais latentes. O artigo traz relatos de mulheres que ocupam cargos de liderança e por exercerem funções de chefia já sofreram algum tipo de discriminação apenas por ser mulher, em um dos relatos é ressaltado o fato de que uma mulher tem que trabalhar o dobro do que os homens e estar sempre disponível para comprovar que merece o cargo, mesmo sendo mais qualificada.


Portanto, é necessário identificar e manifestar os diferentes desafios enfrentados pelas mulheres na ascensão profissional para ocupar posições de liderança no serviço público e para isso deve-se repensar as práticas de inclusão não só de gênero, mas também de pessoas pretas, deficientes, lgbtqiapn+ e de qualquer outro grupo que seja marginalizado dentro da sociedade.


Referência: SOUZA, Mariane Santiago de; SILVA, André Luis. Mulheres na alta liderança do Banco Central do Brasil. Cadernos EBAPE.BR, v. 22, n. 2, p. e 2023-0093, 2024. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/cadernosebape/article/view/91019. Acesso em: 14 mar. 2025. 


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