Por que é tão difícil? A luta das mulheres por espaço na liderança no Banco Central do Brasil
- Luísa da Rocha Canazarro
- 17 de mar.
- 2 min de leitura
*Texto escrito por Luísa da Rocha Canazarro e Gabrielle Maio da Cunha Cabral
A sub-representação das mulheres no setor público, principalmente no caso do Banco Central do Brasil, torna evidente um conjunto de estereótipos característicos da sociedade patriarcal como por exemplo a crença de que as mulheres deveriam se comprometer mais com o cuidado familiar, seja de filhos ou parentes, ao invés de direcionar esforços para a vida profissional e acadêmica. Com o objetivo de analisar quantitativamente os desafios enfrentados por mulheres na ascensão a cargos de alta liderança, a pesquisadora Mariane Santiago de Souza (USP) e o pesquisador André Luis Silva (USP) produziram o artigo “Mulheres na alta liderança do Banco Central do Brasil”.

Toda a estrutura patriarcal cria barreiras para a ascensão das mulheres em cargos de liderança, essas barreiras foram nomeadas de “teto de vidro” e “labirinto” termos que remetem a ideia de que as mulheres sabem quais são os cargos de liderança, mas não conseguem ocupá-los mesmo que sejam altamente qualificadas e para conseguir ocupá-los precisam enfrentar uma série de caminhos estereotipados.
No caso do Banco Central do Brasil, instituição foco para a análise das disparidades de gênero no artigo, a configuração do ambiente revela-se desestimulante e até constrangedor para a carreira feminina. Segundo dados apresentados no artigo, o órgão tem 77% dos cargos ocupados por homens e 23%, por mulheres (Portal da Transparência, 2022). Entretanto, em uma análise da ocupação dos cargos de alta liderança a diferença é ainda mais expoente, com 88% no maior nível hierárquico. Assim, as mulheres ocupam apenas 11% das posições de liderança disponíveis (BCB, 2022). O fato curioso é que mesmo com o acesso à cargos efetivos do BCB sendo universal e de acordo com um concurso público, o que pressupõe ter condições de equilibrar o número de homens e mulheres nos postos de trabalho, há um forte desequilíbrio entre homens e mulheres trabalhando na instituição e uma disparidade mais intensa quando se trata de mulheres ocupando cargos estratégicos de alta liderança.
Uma das formas de avaliar a grande assimetria entre homens e mulheres na alta liderança é destacar como a cultura organizacional legitima os estereótipos de gênero reproduzidos pela sociedade patriarcal, os estereótipos são reproduzidos de diferentes formas no dia a dia e no ambiente profissional são ainda mais latentes. O artigo traz relatos de mulheres que ocupam cargos de liderança e por exercerem funções de chefia já sofreram algum tipo de discriminação apenas por ser mulher, em um dos relatos é ressaltado o fato de que uma mulher tem que trabalhar o dobro do que os homens e estar sempre disponível para comprovar que merece o cargo, mesmo sendo mais qualificada.
Portanto, é necessário identificar e manifestar os diferentes desafios enfrentados pelas mulheres na ascensão profissional para ocupar posições de liderança no serviço público e para isso deve-se repensar as práticas de inclusão não só de gênero, mas também de pessoas pretas, deficientes, lgbtqiapn+ e de qualquer outro grupo que seja marginalizado dentro da sociedade.
Referência: SOUZA, Mariane Santiago de; SILVA, André Luis. Mulheres na alta liderança do Banco Central do Brasil. Cadernos EBAPE.BR, v. 22, n. 2, p. e 2023-0093, 2024. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/cadernosebape/article/view/91019. Acesso em: 14 mar. 2025.