Reflexões críticas sobre a Política Monetária do Federal Reserve no pós-crise do subprime
- Gabriel Rodrigues de Castro e Souza
- 26 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de out. de 2024
Resenha de artigo:
LABONTE, Marc. Financial turmoil: Federal Reserve policy responses, 2010.

Marc Labonte apresenta uma análise das ações e consequências da Política Monetária adotada pelo Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) no contexto da crise do subprime, que teve em seu ápice na falência do banco Lehman Brothers e estouro da bolha imobiliária através da crescente desvalorização dos CDOs (Obrigação de dívida colateralizada) baseados nas hipotecas subprime que não possuíam liquidez no curto prazo devido ao calote dos locatários.
A Crise de 2007-2008 foi uma das maiores crises enfrentadas na sociedade capitalista desde a Grande Crise de 1929. A crescente falta de liquidez e dívidas de bancos como Bear Stearns, Lehman Brothers, Citigroup, e seguradoras como a American International Group (AIG) evidenciou a urgência de uma resposta e ação por parte do governo norte-americano, e em especial, do Federal Reserve (Fed).
A resposta do Fed a hecatombe financeira de 2007 teve que ser agressiva e expansionista, Labonte observa que todos os programas gerados com o objetivo de promover a liquidez nos bancos resultaram em um aumento no balanço do Fed de US$ 1,4 trilhões impulsionada ainda por emissão de dívida do Tesouro norte-americano.
A queda da taxa de juros a níveis próximos de zero foi acompanhada do pagamento de juros a bancos que mantinham suas reservas e não executavam empréstimos para preservar a sua liquidez. Embora o temor de uma elevação da inflação era real no período, em particular devido a diminuição da taxa de juros atrelada a expansão da oferta de moeda, a inflação não se concretizou devido a múltiplos fatores:
A) A Manutenção do crédito concedido aos bancos em reservas excedentes que eram remuneradas com o pagamento de juros;
B) O alto desemprego que impedia o crescimento da renda da população, limitando desta forma o consumo das famílias;
C) De menor proporção, a queda no preço das commodities no segundo semestre de 2008, que impulsionou o índice de preços para baixo.
Esses três motivos que seguravam a inflação não poderiam ser sustentados. A queda no preço das commodities seria passageira, o alto desemprego impedia a expansão e crescimento econômico, a manutenção do crédito em reservas excedentes impedia a retomada dos investimentos. A política do Fed precisava ser anticíclica, e ela foi.
A compra dos CDOs envenenados pela fraude em seu nível de risco, livrou os bancos do fardo do pagamento da dívida, levando o ônus para a sociedade civil e promovendo de certa forma uma “socialização das perdas” geradas pela especulação no mercado imobiliário.
Antes de tudo é preciso dizer que a condução desse processo de resgaste das instituições financeiras passou muito longe do ideal, drasticamente longe. Não só não foi transparente, mas também displicente, por que? Porque o Fed não possuía um critério bem delineado de que instituições ajudar, como ajudar, e por que ajudar. O critério maior, segundo Ben Bernanke (presidente do Fed) era auxiliar as instituições que eram “Grandes demais para falhar”, só que nunca foi definido de forma satisfatória o que era uma instituição “Grande demais para falhar”.
O Fed teve sua credibilidade questionada, tendo que constantemente fazer uma opção entre assumir Riscos Morais (em que o Fed acaba tendo a sua integridade ameaçada devido a proteção de bancos que assumem mais riscos porque contam com a ajuda governamental) e Riscos Sistêmicos (em que sem ajuda do Fed, os bancos entrem em falência e o sistema poderia entrar em colapso).
A hipocrisia do Fed fica evidente no caso do Bear Stearns. O banco Bear Stearns não pertencia ao sistema do Federal Reserve, não fazia parte do regime regulatório e não era um banco tão grande sendo que quando o banco de investimentos Lehman Brothers, que fazia parte do sistema do Fed, que adotava o regime regulatório da entidade e era imensuravelmente maior que o Bear Stearns, não recebeu nenhuma ajuda do Fed entrando dessa forma com um pedido de falência.
A falta de transparência era grande, durante o período não era informado nem ao Congresso, nem ao Senado, quais eram as empresas auxiliadas pelo Fed, pelo medo de ameaçar a credibilidade e a estabilidade das instituições.
Em suma, é possível aprender diversas lições com as ações do Fed. Uma instituição responsável pelo controle da oferta monetária deve precisar pela transparência e bem-estar econômico geral, em um contexto de crise é justificável e desejável sua intervenção para retomar o crescimento nacional. É possível retirar ideias bem úteis para promover a liquidez de bancos, como o pagamento de juros por manutenção das reservas excedentes (ou seja, reservas acima da quantidade obrigatória) em momentos de crise de liquidez.
Agir como guardiões da moeda e da soberania nacional é o dever supremo de todo Banco Central em um contexto de crise. Embora a administração do Federal Reserve da Crise do Subprime tenha seus pontos de debates, há muito reconhecimento sobre como as medidas adotadas evitaram uma espiral contracionista como a Crise de 1929.